quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 101

Ó, negligente Musa, que desculpas me darás
Por faltares com a verdade tingindo-a com a beleza?
Do belo e da verdade depende o meu amor;
E tu, também, para te tornares digna.
Responde, Musa: não me dirás, alegremente,
“A verdade não precisa de tom por ter sua própria cor,
Nem a verdade, de lápis para desenhá-la;
Mas o bom é o melhor, se jamais for corrompido?”–
Por ele não precisar de elogios, te entorpecerás?
Não desculpes o silêncio; por depender de ti
Para fazê-lo viver além da dourada tumba,
E ser aclamado longamente no porvir.
Assim, cumpre teu ofício, Musa; te ensinarei como
Fazê-lo parecer profundo então como se parece agora.

SONETO 102

Meu amor se fortalece, embora não pareça mais forte;
Não amo menos, embora não demonstre tanto;
O amor anunciado, cuja rica estima
A língua de seu dono difunde por toda a parte.
Nosso amor era jovem, então, na primavera,
Quando queria saudá-lo com meus amavios;
Como o rouxinol que canta assim que o verão principia,
E interrompe seu trinado à espera de dias mais maduros:
Não que o verão seja menos agradável agora
Do que seus tristes hinos que a noite silenciam,
Mas a louca música pesa em seus ramos,
E as doçuras perdem seu delicioso gosto.
Assim, como ela, por vezes também me calo,
Para não enfastiar-te com o meu canto.

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