quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 113

Desde que te deixei, meus olhos se ensimesmaram,
E quem me leva a caminhar livre
Em parte, vê e, em parte, está cego,
Pensando ver, mas, na verdade, não vê;
Pois não indica nenhuma forma ao coração
De pássaro, flor, ou silhueta, que consiga divisar;
Desses fugidios objetos a mente não se ocupa,
Nem sua vista se detém sobre o que possa vislumbrar;
Pois diante da mais branda ou mais rude visão,
A mais formosa ou deformada criatura,
A montanha ou o mar, o dia ou a noite,
Corvo ou pomba, empresta a eles tua forma.
Incapaz de ver outra coisa, tão cheia de ti,
Minha mente certa torna meus olhos incertos.

SONETO 114

Deve a minha mente, coroada de ti,
Sorver a praga do rei, este elogio?
Ou devo dizer que meu olho não mente,
E que teu amor ensinou-lhe esta alquimia,
De transformar monstros e coisas indigestas
Em querubins semelhantes à tua doce imagem,
Transmutando todo o mal em perfeito bem
Tão rápido quanto tudo dele se aproxima?
Ó, eis o primeiro, o elogio a meu ver,
E minha grande mente majestosamente o sorve.
Meus olhos sabem bem o que a língua prova,
E para o palato prepara o copo.
Se for veneno, será um pecado menor
Do que meu amor por ele e, assim, principio.

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