quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 125

Para que eu deveria erguer o dossel,
Honrando somente as aparências,
Ou lançar as bases da eternidade,
Que serviria menos que o desperdício e a ruína?
Já não vi quem tivesse uma vida abastada
Perder tudo e, ainda, pagar caro o aluguel,
Passar de manjares a simples repastos,
Pobres ricos, de quem tudo foi tirado?
Não, deixa-me servir o teu coração,
E entregar-te meu óbolo, ínfimo, mas livre,
Imune ao tempo, indiferente à arte, porém
Com mútua entrega, dando-me por inteiro a ti.
Por isso, inútil delator! Quanto mais prendes
Uma alma verdadeira, menos a podes controlar.

SONETO 126

Tu, adorado menino, que deténs em teu poder
A ampulheta do Tempo, a foice das horas,
Que cresceste ao vê-lo minguar, e assim mostraste
O fim dos amantes, à medida que, doce, avançavas;
Se a Natureza (senhora absoluta dos desastres)
Mesmo que te adiantes, ainda te reterás,
Ela te mantém por um motivo: com seu dom
Desgraçará o Tempo, e matará os malditos minutos.
Mas teme-a, tu, seu filho favorito,
Ela te deterá, mas não guardará o seu tesouro!
Mais cedo ou mais tarde, terás de responder-lhe,
E sua satisfação será apenas a de dominar-te.

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