sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 47

Há uma união entre o que vejo e sinto,
E o bem que cada coisa verte de uma em outra:
Quando meus olhos anseiam por um olhar,
Ou o coração apaixonado, brando, a suspirar,
Meus olhos celebram a imagem do meu amor,
E, diante do banquete, se rende a minha emoção;
Em outro tempo, meus olhos se aninham ao sentimento,
E se unem aos seus pensamentos amorosos:
Então, seja por tua imagem ou pelo meu amor,
Estás, mesmo distante, sempre comigo;
Pois não corres mais do que meus pensamentos,
E estou sempre com eles, e eles, contigo;
Ou, se adormecem, a tua imagem à minha frente
Desperta meu amor para a alegria dos olhos e do coração.

SONETO 48

Que cuidado tomei quando em meu caminho
Ao acaso surgiram inutilidades,
Que para mim continuariam intocadas
Pelas mãos da falsidade, entregues à confiança.
Mas tu, para quem minhas riquezas não são nada,
Zelo mais valoroso, agora meu maior pesar,
Tu, a mais amada e meu único cuidado,
Do mais terrível ladrão te tornas presa,
A ti, não encerrei em uma arca,
Salvo onde não estás, embora sinta que estejas
Dentro da gentil clausura do meu peito,
De onde poderás ir e vir a teu bel-prazer;
E, mesmo assim, temo que serás roubada,
Pois a verdade nos rouba quanto maior o prêmio.

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