sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 53

De que substância és feita,
Que milhões de estranhas sombras te envolvem?
Como todos têm, cada um, a sua sombra,
E tu, sozinha, podes emprestar a elas.
Descreve Adônis, cuja imitação
É parcamente feita à tua imagem;
E sobre o rosto de Helena toda arte da beleza se define,
E tu, em mosaicos gregos, de novo és pintada;
Fala da primavera, e do frescor do ano;
Aquela que exibe a sombra de tua formosura,
E o outro, como teu coração se assemelha,
E tu, em toda forma abençoada e conhecida.
Tomas parte de toda graça visível,
Mas, nem tu, nem ninguém mantém fiel o coração.

SONETO 54

Ó, muito mais linda parece a beleza
Docemente ornada pela verdade!
A rosa é linda, mas a julgamos ainda mais bela
Pelo suave odor que exala.
As rosas silvestres têm o mesmo tom
Que as rosas perfumadas e coloridas,
Presas a seus espinhos, e brincam, voluptuosas,
Quando o hálito do verão as abre em botão;
Mas, como a aparência é sua única virtude,
Vivem esquecidas, e murcham abandonadas –
Morrendo solitárias. Doces rosas não fenecem;
De suas ternas mortes exalam os mais doces perfumes,
Assim como de ti, linda e amável donzela,
Ao feneceres, tua verdade destilará nos versos.

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