sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 65

Se nem o bronze, a pedra, a terra, o mar infinito,
Senão a triste mortalidade que supera o seu poder,
Como pode a beleza defender-se diante da fúria,
Cuja ação não é mais firme que uma flor?
Como pode a cálida aragem de estio superar
O desastroso ataque dos exaustivos dias,
Quando sólidas montanhas não são indevassáveis,
Nem portões de aço poupam o tempo da ruína?
Ó temível pensamento! Onde se esconderá
A joia mais magnífica do gélido abraço do tempo?
Ou que mão poderosa deterá seus ágeis pés,
Ou quem proibirá a destruição de sua beleza?
Ah, ninguém, a menos que um milagre aconteça:
Que esta negra tinta possa resplandecer o meu amor.

SONETO 66

Cansado de tudo isto, uma morte pacífica imploro:
Para impedir que nasça o mendigo,
E toda a necessidade termine em descaso,
E a fé mais pura seja tristemente preterida,
E a honra vergonhosamente deslocada,
E a virginal virtude rudemente pisoteada,
E a mais completa perfeição erroneamente desgraçada,
E a força desarmada pelo claudicante,
E a arte amordaçada pela autoridade,
E a loucura controlada pela medicina,
E a verdade confundida com a simplicidade,
E o bem cativo atenda à insanidade.
Cansado de tudo isto, disto tudo me afastaria,
Exceto ao morrer de abandonar o meu amor.

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