quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 83

Jamais vi precisares de cores,
E, assim, não há como pintar a tua beleza;
Supus (ou pensei supor) que excedesses
O legado cru de um poeta;
E, portanto, adormeci por tua causa,
Que tu, ao existir, pudesses mostrar
Quanto uma moderna pena deixa de escrever,
Falando de valor, do valor que cresce em ti.
Tu imputaste este silêncio pelo meu pecado,
Que será a minha glória, mesmo sendo surdo;
Pois não impeço a beleza, embora mudo,
Quando outros dariam a vida e encontrariam a morte.
Há mais vida em um de teus belos olhos
Que ambos teus poetas conseguem louvar.

SONETO 84

Quem diz mais? Qual deles diz mais,
Do que este rico elogio – de quem tu és,
Em cujo confinamento está guardado
O modelo onde crescem teus pares?
A magra penúria da pena vive
De não retirar a glória de seu objeto;
Mas aquele que escreve sobre ti, se puder dizer
Quem tu és, assim dignifica a sua história.
Deixa-o copiar o que está escrito em ti,
Sem piorar o que a natureza deixou claro,
E que ela dê fama à sua inteligência,
Tornando seu estilo admirado em toda a parte.
Tu, às tuas bênçãos de beleza, acrescentas uma praga,
Teu gosto por elogios torna-os piores.

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