quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 87

Adeus! És muito cara para que eu te tenha,
E bem conheces o teu próprio valor:
O privilégio de teu peso te liberta;
Minha devoção a ti é toda determinada.
Como posso ter-te, senão por teu favor?
E, diante de tanta riqueza, que fiz por merecê-la?
A causa do presente que me é dado é meu desejo,
E, assim, meu direito me é subtraído.
Tu mesma marcaste teu valor sem o saber,
Ou a mim, a quem o deste, por engano;
Pois tua grande dádiva, de mim arrancada,
Retorna à tua casa, melhor considerada.
Assim, tive a ti, como um sonho demasiado:
Um rei ao dormir e, ao despertar, um exilado.

SONETO 88

Quando estiveres disposta a me desprezar,
E expor meus méritos ao escárnio,
Eu, ao teu lado, contra mim mesmo lutarei,
E provarei tua virtude, embora seja teu o perjúrio.
Com minhas fraquezas bem expostas,
Por ti posso engendrar uma história
De ocultas falhas, das quais sou acusado,
Que, ao me pôr a perder, te recobrirá de glória.
E eu disso também sairei vencedor,
Pois, dirigindo a ti meus amáveis pensamentos,
As injúrias que inflijo contra mim,
Ao te dar vantagem, dou-as em dobro a mim.
Assim é o meu amor, assim a ti pertenço,
E, por teu direito, suportarei todo o engano.

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