quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 93

Assim vivo, supondo-te verdadeira,
Como um marido traído; assim a face do amor
Parecerá amorosa, embora, diversa, se altere –
Voltando a mim os olhos, e o coração, à outra parte.
Pois em teus olhos não pode haver ódio,
Assim nisso não percebo a tua mudança.
De muitas formas a história do falso coração
Se escreve em estranhas alterações de humor;
Mas o céu, ao criar-te, decretou
Que em teu rosto o doce amor sempre vivesse;
Teu olhar não expressaria senão a doçura
Que passasse por tua mente ou teu coração.
Tal a maçã de Eva aumenta tua beleza,
Se tua doce virtude não te responder em vão!

SONETO 94

Aqueles que têm o poder de ferir e nada farão,
Que não fazem o que demonstram,
Que ao impelir outros, são como pedra,
Imóveis, frios, e imunes à tentação –
E por direito caem nas graças divinas,
E herdam da natureza as riquezas de seu custo;
Eles são os senhores e donos de si mesmos,
Os outros, apenas os servos de sua excelência.
A flor do verão é doce para a estação,
Embora para si mesma apenas viva e feneça;
Mas se essa flor for ferida em sua essência,
A erva daninha mais singela arrancará a sua honra;
Pois o mais doce se torna amargo por seus feitos;
Lírios mais fétidos do que as ervas daninhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário